A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta
sexta-feira (8) a epidemia de ebola no oeste da África uma emergência pública
sanitária internacional.
O comitê de urgência da OMS, que se reuniu na quarta e
quinta-feira em Genebra, "considera de forma unânime que são dadas as
condições" para declarar "uma emergência de saúde pública de alcance
mundial", indicou em um comunicado.
Com isso, os países afetados pela epidemia vão ter que
adotar, entre outras medidas, exames para detectar o vírus em aeroportos,
portos e postos de fronteira, em todas as pessoas que apresentarem febre e
outros sintomas semelhantes aos do ebola.
Diante de uma situação que se agrava, "uma resposta
internacional coordenada é essencial para frear e fazer retroceder a propagação
internacional do ebola", acrescentou o comitê.
A epidemia de ebola, que já deixou desde o início do ano
até esta sexta 961 mortos e mais de 1.700 supostos casos detectados, é a
"mais importante e mais severa" em quatro décadas, ressaltou a Diretora-geral
da OMS, Margaret Chan.
A OMS não decretou, no entanto, quarentena nos países
afetados - Guiné, Libéria, Serra Leoa e, em menor medida, Nigéria - para não
agravar sua situação econômica, mas pediu fortes medidas de controle em seus
pontos de saída.
Este dispositivo de emergência é o terceiro da OMS depois
do decretado em 2009 pela epidemia de gripe aviária na Ásia, e em maio pelo
desenvolvimento da poliomielite no Oriente Médio.
A diretora estimou que os países do oeste da África
afetados pela epidemia não podem enfrentá-la sozinhos e convocou a comunidade
internacional a fornecer o apoio necessário.
Embora o comitê tenha excluído impor restrições às
viagens ou ao comércio internacional, indicou que os "Estados devem se
preparar para detectar e tratar os casos de doentes" e "facilitar a
evacuação de seus cidadãos, em particular as equipes médicas, expostas ao
ebola".
“Este é um claro chamamento à solidariedade internacional
com os países afetados que não têm capacidade para enfrentar um surto deste
tamanho e desta complexidade”, disse Margaret Chan.
A OMS disse estar preparada para que o surto permaneça em
alto nível pelos próximos meses, e afirmou que é provável que a situação piore
antes de melhorar.
Após este anúncio, a União Europeia classificou de risco
muito fraco a propagação do ebola no continente europeu e ressaltou que no caso
é pouco provável que o vírus alcance o
continente europeu, e estão preparados para enfrentá-lo.
Já o departamento de Estado americano recomendou na
quinta-feira que os americanos adiem qualquer viagem não essencial à Libéria
devido ao ebola.
Recomendações da
OMS
O comitê ressalta que os chefes de Estado dos países
afetados têm que decretar estado de emergência e "se dirigir pessoalmente
ao país para fornecer informação sobre a situação".
Keiji Fukuda, vice-diretor-geral da OMS encarregado da
epidemia, explicou que as pessoas atingidas precisam ficar 30 dias em
quarentena porque o tempo de incubação do vírus é de 21 dias.
As pessoas que estão em contato com os doentes, com
exceção das equipes médicas, que têm uma roupa de proteção, não devem viajar,
indicou Fukuda, pedindo também que a tripulação dos voos comerciais receba
informação e material médico para se proteger e proteger os passageiros.
O comitê da OMS também recomenda que todos os viajantes
procedentes dos países afetados façam um check-up, respondendo a um
questionário e medindo a temperatura nos aeroportos, portos e nos principais
postos fronteiriços.
Uganda isolou nesta sexta no aeroporto de Entebbe um
passageiro, que apresentava os sintomas do ebola, à espera dos resultados, mas
finalmente eles deram negativo.
Dois países em estado de emergência, Libéria e Serra
Leoa, colocaram em quarentena três cidades na zona contaminada.
A Europa recebeu na quinta-feira um primeiro doente com
ebola repatriado, um missionário espanhol contaminado na Libéria, dias depois
da repatriação aos Estados Unidos de dois pacientes americanos.
Nos Estados Unidos, onde seu alerta de saúde encontra-se
em nível máximo, a agência de medicamentos (FDA) levantou parcialmente as
restrições sobre um tratamento experimental contra o ebola da empresa canadense
Tekmira.
O vírus ebola é transmitido por contato direto com
sangue, líquidos biológicos ou a pele de pessoas ou animais infectados e
provoca uma febre caracterizada por hemorragias, vômitos e diarreia. Seu índice
de mortalidade varia entre 25% e 90%.
Nigéria declara
emergência
Após o anúncio da OMS, o presidente da Nigéria, Goodluck
Jonathan, declarou nesta sexta (8) que o país entra em estado de emergência
para combater o surto de ebola no país mais populoso da África. Jonathan
aprovou um fundo de emergência de 1.9 bilhão de Naira (US$ 11.6 milhões) para
conter a epidemia.
A Nigéria confirmou sete casos de ebola desde que um
homem doente chegou da Libéria. Dois deles morreram. Diversas dezenas de
pessoas que entraram em contato com o homem estão sob vigilância.
Riscos para o
Brasil
Na quinta-feira, o
governo brasileiro reforçou recomendações às equipes de saúde encarregadas de
atender passageiros que apresentaram durante a viagem ao Brasil problemas como
febre, diarreias ou hemorragias. A medida, na avaliação do Ministério da Saúde,
é suficiente para identificar de forma rápida casos de uma eventual
contaminação por ebola em viajantes. Normas mais drásticas, como a suspensão de
voos, não estão sendo analisadas.
A possibilidade da
chegada do ebola ao Brasil é considerada baixa pelo Ministério da Saúde. O
infectologista Esper Kallás, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, faz o
mesmo diagnóstico. Um dos motivos, segundo o médico, é que a gravidade dos
sintomas dificulta a locomoção de doentes e o contato com muitas pessoas. "Os
sinais da doença são perceptíveis e o paciente fica extremamente
debilitado", diz Kallás. A enfermidade começa a se manifestar com febre,
fraqueza e dores musculares, de cabeça e de garganta. Em seguida, vêm vômitos,
diarreias, feridas na pele, problemas hepáticos e hemorragia interna e externa.
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/08/oms-declara-epidemia-de-ebola-emergencia-sanitaria-internacional.html
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